O QUE É CORDEL
Na Literatura de Cordel, cada poeta tem a sua especialidade. É a instrução do povo pobre. Um fenômeno cultural, campeão de venda entre os que não sabem ler porque o enredo prende mais que a leitura.
Sai a explicação do mundo. Poeta de plantão, pra contar desde o princípio: "Há milhões de anos atrás realmente nada existia. Antes de tudo ser feito força cósmica já existia. Pra criar todo universo que era de forma vazia", lê Poeta Cristóvão, cordelista.
É a vida no pregador do varal.
"Literatura de cordel aqui, tudo de corda aqui, dependurado, tá vendo?", mostra Poeta.
Cada poeta com a sua especialidade.
"É cordel científico, regional e biografia", classifica.
Instrução do povo pobre. Conhecimento desvendado.
"É as coisas que ninguém vê mesmo. E o artista mostra e o povo aprende. Decora", explica Poeta.
Um improvável fenômeno cultural: campeão de venda entre os que não sabem ler.
"Noventa por cento era analfabeto. Então, quando tinha um que sabia ler ele se via aos trote, com o povo com o folheto na casa dele pra ele ler", lembra J.Borges, cordelista e gravador.
É que o enredo prende mais que a leitura.
"Aquela história de amor, de luta, e um cabra valente vencer 35, 40, 200, 300. Porque o sucesso do cordel é a mentira, rapaz. Sabendo mentir, vende bem", revela o cordelista.
Jota Borges levou o mundo do cordel para o entalhe. Virou gravador famoso com os personagens da literatura popular.
"Os outros cordelistas me encomendavam um cangaceiro, um santo, um vaqueiro, um pé de árvore, um passarinho, tudo de acordo com a história, mandava ilustrar, eu ilustrava e dava certo", conta.
História de cordel é assim: está sempre reservada uma redenção.
"E pedi licença a ela para tirar o chapéu e escrever a chegada da prostituta no céu", declama J.Borges.
Mas a interpretação da vida na arte popular do Nordeste vai além do seu significado regional porque quanto mais fala de si e das pessoas em volta, mais o artista se aproxima o folclore da linguagem universal.
Ex-sacristão, o pintor e escultor Zé do Carmo se perguntava se tudo que é anjo nasce na Europa.
"Eu via nas igrejas os anjos com cara de italiano, com cara bonita", conta.
Mas nos sonhos dele anjo era diferente: "Tem forma de luz. Os anjos de Deus são luzes."
E se anjo é luz, tem a cara que a gente quiser.
"Meus anjos são nordestinos, com cara de gente!"
Quando o Papa veio ao Brasil, Zé fez um anjo cangaceiro. A igreja proibiu o presente. O argumento?
"Que o papa não ia aceitar um anjo cheio de bala e cartucheira. E que os anjos de Deus não tinha essa cara", conta Zé do Carmo.
Se o Papa quiser, o presente esta aí, guardado no atelier. Porque Zé tem certeza: não pode ser pecado o que nos aproxima de Deus. Ali se opera o milagre nordestino: da pobreza tirar o alumbramento da cor, da forma, da palavra.
Na Literatura de Cordel, cada poeta tem a sua especialidade. É a instrução do povo pobre. Um fenômeno cultural, campeão de venda entre os que não sabem ler porque o enredo prende mais que a leitura.
Sai a explicação do mundo. Poeta de plantão, pra contar desde o princípio: "Há milhões de anos atrás realmente nada existia. Antes de tudo ser feito força cósmica já existia. Pra criar todo universo que era de forma vazia", lê Poeta Cristóvão, cordelista.
É a vida no pregador do varal.
"Literatura de cordel aqui, tudo de corda aqui, dependurado, tá vendo?", mostra Poeta.
Cada poeta com a sua especialidade.
"É cordel científico, regional e biografia", classifica.
Instrução do povo pobre. Conhecimento desvendado.
"É as coisas que ninguém vê mesmo. E o artista mostra e o povo aprende. Decora", explica Poeta.
Um improvável fenômeno cultural: campeão de venda entre os que não sabem ler.
"Noventa por cento era analfabeto. Então, quando tinha um que sabia ler ele se via aos trote, com o povo com o folheto na casa dele pra ele ler", lembra J.Borges, cordelista e gravador.
É que o enredo prende mais que a leitura.
"Aquela história de amor, de luta, e um cabra valente vencer 35, 40, 200, 300. Porque o sucesso do cordel é a mentira, rapaz. Sabendo mentir, vende bem", revela o cordelista.
Jota Borges levou o mundo do cordel para o entalhe. Virou gravador famoso com os personagens da literatura popular.
"Os outros cordelistas me encomendavam um cangaceiro, um santo, um vaqueiro, um pé de árvore, um passarinho, tudo de acordo com a história, mandava ilustrar, eu ilustrava e dava certo", conta.
História de cordel é assim: está sempre reservada uma redenção.
"E pedi licença a ela para tirar o chapéu e escrever a chegada da prostituta no céu", declama J.Borges.
Mas a interpretação da vida na arte popular do Nordeste vai além do seu significado regional porque quanto mais fala de si e das pessoas em volta, mais o artista se aproxima o folclore da linguagem universal.
Ex-sacristão, o pintor e escultor Zé do Carmo se perguntava se tudo que é anjo nasce na Europa.
"Eu via nas igrejas os anjos com cara de italiano, com cara bonita", conta.
Mas nos sonhos dele anjo era diferente: "Tem forma de luz. Os anjos de Deus são luzes."
E se anjo é luz, tem a cara que a gente quiser.
"Meus anjos são nordestinos, com cara de gente!"
Quando o Papa veio ao Brasil, Zé fez um anjo cangaceiro. A igreja proibiu o presente. O argumento?
"Que o papa não ia aceitar um anjo cheio de bala e cartucheira. E que os anjos de Deus não tinha essa cara", conta Zé do Carmo.
Se o Papa quiser, o presente esta aí, guardado no atelier. Porque Zé tem certeza: não pode ser pecado o que nos aproxima de Deus. Ali se opera o milagre nordestino: da pobreza tirar o alumbramento da cor, da forma, da palavra.
Aluna: Marindia Feliciano dos Santos
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